domingo, 22 de março de 2009

A RELAÇÃO DA CULTURA E DA EDUCAÇÃO NUM CONTEXTO EDUCACIONAL A MULTICULTURALIDADE E A IDENTIDADE NA FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO

UPAP – UNIVERSIDAD POLITÉCNICA Y ARTISTICA DEL PARAGUAY
REITORIA E ESTUDOS DE PÓS-GRADUAÇÃO
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “STRICTO SENSU” MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
CAMPUS – CIUDAD DEL LESTE



TEMA:


A RELAÇÃO DA CULTURA E DA EDUCAÇÃO NUM CONTEXTO EDUCACIONAL

A MULTICULTURALIDADE E A IDENTIDADE NA FORMAÇÃO DO POVO

BRASILEIRO





PROFRESSORA:

MAGALI BEATRIZ AUGUSTO




DISCIPLINA:

EDUCAÇÃO E CULTURA







ELÓI INÁCIO KUHN


CHAPECÓ - SC – BRASIL, JULHO DE 2008.





RELAÇÃO DA CULTURA E DA EDUCAÇÃO NUM CONTEXTO

EDUCACIONAL, A MULTICULTURALIDADE E A IDENTIDADE NA

FORMAÇÃO DO POVO BASILEIRO


“Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado, mas, consciente do inacabamento, sei que pode ir mais além dele.” (PAULO FREIRE, 1999. P.59).

Como poderíamos negar nossas raízes sócio-culturais, nossa genética, nossa visão de mundo, nosso medos, nossas angústias, enfim, nosso passado?
Com essa pergunta travo uma luta de resistência contra o aculturamento universal, onde as mídias de massa nos levam a crer em mudanças abruptas necessárias, massificações de ideologias e tendências nas mais diferentes áreas do conhecimento e convivências do ser humano com moldurações globalizadas, onde marcas, tendências de moda, tentam a todo custo impor modos e costumes universalizados.
É sabido que cada ser, cada indivíduo traz em suas essência traços culturais que ditam normas de convivências entre os seres do grupo, bem como, toda uma gama referencial de comportamento, suas raízes de origem, além da cultura local (popular).
A educação (cultura acadêmica), ou seja, aquela ditada em salas de aula, tem por princípio promover mudanças relativamente permanentes no indivíduo, tentando uma homogeneização, um desenvolvimento integral e uniforme da sociedade. Todavia, é uma política muito questionável e se este objetivo será atingido em razoável plenitude em face do conhecimento anterior do educando, sua resistência a mudanças, ao desenvolvimento bio-psico-social e seus vínculos comportamentais em relação ao mundo que o cerca na maior parte de sua vida.
Num primeiro momento, é necessário entender, que nenhum educando chega à escola, analfabeto para o mundo, e que muitas vezes pessoas que não dominam a leitura e a escrita (culta) são mestres culturais em seus grupos, dominando o cultivo da terra, as ciências das plantas na saúde de seu povo, além da cultura dos alimentos, das ferramentas, armas para sua defesa e sobrevivência.
Não dista muito dos nossos dias em que um continente foi invadido pelo povo “culto” onde, neste continente, viviam milhões de seres adaptados e em perfeita harmonia com o meio, com suas culturas distintas, que com chegada de outros povos estão sendo tolhidos de sua cultura, perdendo sua identidade suas características e estão fadados ao desaparecimento.
Com a chegada dos povos europeus, novas culturas foram trazidas e impostas como diferenciadoras de poder e classes sociais. Com a necessidade de mão de obra lançou-se mão de povos que, em suas culturas, faziam refém seus desafetos, que eram negociados para o trabalho forçado, e aqui submetidos à escravidão, assim trazendo uma grande gama de costumes, crenças e hábitos próprios de sua cultura, que com as já existentes, formando uma cultura híbrida, rica em sua essência com características únicas no mundo.
Nosso país detém um dos maiores patrimônios culturais do mundo, com tudo, regionalizados em decorrência das migrações étnicas, e dos espaços continentais existentes, para as diferentes regiões deste monumental país.
No sul desatacam-se as culturas européias que, em face de ser o berço destas colonizações oferecem forte resistência a novas culturas, que possam interferir nos hábitos inerentes a cada etnia, mas, em contra partida divulgam seu usos e costumes, com sua bravura e sina de desbravador (destruidor) pelo continente.
O nordeste tem grande destaque, com as culturas afros-descendentes que, com seu carisma, ditam usos e costumes que embelezam e encantam o turismo mundial.
Assim, cada região, cada estado, cada cidade tem sua própria cultura e seus próprios costumes e festejos culturais.
Sem dar um enfoque privilegiado, podemos destacar que todo esta riqueza cultural tem sua influencia direto sobre a educação. Especificamente sobre o educando que com suas raízes muitas vezes sente-se excluído do “novo” grupo, podendo nunca ser compreendido, passando a renegar as práticas escolares excludentes impostas através de um currículo unificado para um país continental, não levando em conta todo conhecimento pré-existente ao conhecimento escolar fazendo com que muitos costumes e culturas sociais sejam abortados pelos membros dos grupos, que não mais se identificando com suas raízes, quando do seu retorno, após convívio e formação na cultura acadêmica.
Em nosso país, em torno dos anos 50 e 60, partindo do método Paulo Freire, iniciou-se o debate sobre as relações entre escola pública e cultura popular, em uma época chamada de populista aparecendo o que se denomina “educação popular” por valorizar a cultura popular que se destinaria ao povo oprimido, referindo-se à valorização desta cultura como meio de luta contra a discriminação pelas classes dominantes, ou elite, cuja cultura seria teoricamente, a erudita.
Educação “mundo” engloba ensinar e aprender em qualquer sociedade responsável pela manutenção e a perpetuação na passagem das gerações, os meios necessários á convivência de um membro em sua sociedade, presentes nos mais variados espaços do convívio social.
Já a prática educativa formal é dada de forma intencional e com objetivos em instituições específicas, ou seja, nas escolas, que tentam desesperadamente alinhavar suas teorias, práticas e discursos com as regras culturais existentes, conflitando e se readequando com as ferramentas e recursos disponíveis, tentando uma metamorfose dos recursos humanos locados em cada setor da educação. Parece-nos que este último é um dos maiores empecilhos para um bom andamento de programas educacionais e culturais conjugados ter êxito, em face de sua formação catedrática, na maioria das vezes deficiente ou desinteresse do profissional ou ainda por falta de seriedade das instituições formadoras deste cabedal.
Em um país, tão diverso, tão grande, com tantas expressões diferentes, com tantos jeitos de ser, de conviver ou rezar, que vão se modificando em diferentes espaços, não nos permite falar de uma única cultura, mas das muitas culturas que formam este país. Centenas de países têm, dos seus membros diluídos em nossa sociedade. Outro exemplo, quantas nações indígenas nós temos? E quantas culturas africanas que vieram para formar o que chamamos de cultura afro-brasileira entre outras. Com certeza muitos pontos não foram suficientemente debatidos entre o corpo docente e cúpula organizacional ligada a educação, o que levou desorientação ideológica com distorções e interpretações errôneas dentro da educação formal, que não conseguiu e não consegue atender as expectativas, levando ao fracasso escolar ou mesmo a desistência dos discentes que por vários motivos institucionais, aliados aos seus próprios, não conseguiram ou conseguem acompanhar estes moldes da educação.
“Hoje, como no passado, nos defrontamos com uma educação muito aquém da ideal, e que carrega em seu bojo questões, que foram largamente estudadas pela sociologia como as condições de discriminação, seleção e exclusão e sucesso. Em busca de mudanças nesta situação de calamidade vivida pela educação no Brasil, foi que educadores brasileiros realmente comprometidos com sua missão se aproximaram e se identificaram com as idéias de Gramsci
O pensamento gramsciano é que se uma sociedade se encontra dividida, a escola também apresentará divisões, tornando-se uma escola - de - classe social. Ele então propõe uma escola unitária, que tenha por base a não dicotimização entre os trabalhos manuais e os intelectuais, cumprindo sua função de inserir os jovens nas atividades da sociedade com criatividade e autonomia após certo grau de maturidade” (Scocuglia, 1988).
Sabemos que cultura é o fermento que alimenta, dá forma e conteúdo à educação. Em sala de aula, experiências, vivências e singularidades estão reunidas. Alunos e professores trazem suas bagagens e histórias. Confrontos, trocas, negações e reafirmações de culturas pulsam o tempo todo nesse convívio. Se não houver um saber pronto e acabado a ensinar, a educação tem suas chances de sucesso ampliadas. Se o saber em construção for inclusivo das diferenças, renovam-se as esperanças.
Conforme Carlos Rodrigues Brandão (2001, p.35) que “educar é fazer perguntas” e que “ensinar é criar pessoas em que a inteligência venha a ser medida, mais pelas dúvidas mal formuladas, do que pelas certezas bem repetidas. De que aprender é construir um saber pessoal e solidário, através do diálogo entre iguais sociais culturalmente diferenciados.”
O fracasso escolar está alicerçado na reprodução de textos e contextos unificados, que nada tem em comum com as realidades locais, criando uma linguagem distante, causando um grande desinteresse em torno dos conteúdos programáticos, por não atender os interesses do educando e de suas comunidades .
“ A busca em compreender como as questões sociais, culturais e econômicas se encontram diretamente relacionadas com o fracasso ou com o sucesso escolar não teria se transformado em objeto de inúmeras pesquisas sociológicas e em argumentos primordiais no debate político se o nível educacional alcançado pelos sujeitos não fosse um dos principais determinantes do status social” (Forquin, 1995).
"E tal situação há de continuar enquanto o poder de controle sobre os conteúdos, estruturas e financiamento da educação depender daqueles que dispõe também do poder econômico e político no seio da sociedade capitalista - eis a razão porque toda democratização da educação é sem dúvida ilusória."(BOWLES e GILIS, 1976, apud FORQUIN: 62).
Ante esta situação, no final do século passado disparou-se contra a “monocultura” e a educação formal ao descobrir-se à complexidade que envolve a educação e a integração cultural ao aprendizado. No mundo contemporâneo em que a cultura está presente em todos os espaços e representações sociais, devemos saber escolher as tendências culturas, ai a importância da iniciação cultural na escola. Cabe lembrar que as distâncias entre educação e cultura ainda são imensas, mas, desprazíveis se comparados a um passado próximo, onde, a palavra cultura trazia sua conotação inerente a ciências que a enfocava.
Essa iniciação na escola, da educação para cultura, a escola deverá rebuscar os “elos perdidos” tornando-se a ferramenta de formação dos indivíduos conscientes da pluralidade humana com direito de escolha dos seus valores e capazes de ler o mundo a partir do significado do legado cultural deixado pelas gerações passadas.
Urge, em nosso país uma política capaz de promover a reestruturação dos currículos escolares alicerçados em experiências nacionais ou internacionais bem sucedidas, mas, com visão própria e futurista, iniciando pela metamorfose dos tecnocratas, das leis, das instituições acadêmicas, hoje retrogradas “vencidas” com reaparelhamento tecnológico de todo sistema escolar, disponibilizando cursos de aperfeiçoamento e/ou substituição dos recursos humanos e disciplinas, alienados a educação jesuítica ultrapassada, dando atenção especial aos espaços escolares, com reorganização disciplinar e oficinas direcionadas às culturas locais, onde o educando se sinta parte do processo da construção educacional, respeitado-se as dividas limitações humanas das partes educador e educando, mas com a certeza que a semente foi plantada e que no decorrer das próximas gerações os frutos da mudança poderão ser saboreadas.
“ A raiz mais profunda da politicidade da educação se acha na educabilidade mesma do ser humano, que se funda na sua natureza inacabada e da qual se tornou consciente.” (PAULO FREIRE,1999, P 124).
Concluindo, podemos dizer que, somando os poderes que regem as tendências psi-socio-culturais de um país, com quem faz acontecer a política, somados a vontade das política publicas e do povo, novos rumos serão dados as futuras gerações, que, com certeza poderão se amparar na educação e usufruir do conhecimento para uma melhor desempenho de suas funções comunitárias e com mais qualidade de vida, porque;
“O conhecimento gera o poder e quem detém o poder tem conhecimento e o utiliza como força de manobra para o bem ou mal de seus grupos sociais. (resumo Apostila Educação e Cultura)”.








Bibliografias pesquisadas:
*FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia, 1999- 10º edição.
*SILVA, Luiz heron da, AZEVEDO, José Clóvis de e SANTOS Edmilson Santos dos (organizadores). NOVOS MAPAS EDUCACIONAIS NOVAS PERSECTIVAS EDUCACIONAIS, 1996.
*BERTONCELLO, Natalina Salete da Silva. A Filosofia de Todos os Tempos, 2004 – 2º edição.
*CHAWI, Marilena, filosofia – Introdução a Cultura-Série Brasil.
*ALVES, Pérsio dos Santos. Introdução a Sociologia, 2004. 25º edição.
*ARAUJO, Maria Lucia Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires, Filosofando, 2005
* Apostila do curso (EDUCAÇÃO E CULTURA) JULHO 2008